segunda-feira, 23 de abril de 2012

D. DANIEL GOMES JUNQUEIRA, BISPO DE NOVA LISBOA (HUAMBO), ANGOLA

Em Janeiro de 2005, o Mons. Manuel Amorim falou aos microfones da Rádio Onda Viva sobre o grande Bispo de Nova Lisboa, hoje Huambo, o primeiro da diocese, que foi D. Daniel Gomes Junqueira, natural da Estela. Vítima da República, o jovem Daniel Junqueira teve de estudar em diversos países europeus. Depois, voltou e foi um notabilíssimo sacerdote e um bispo que desenvolveu e promoveu uma acção missionária tão espantosa que mal dá para crer.
O Monsenhor seguiu de perto um texto que que tem a assinatura do P.e Dr. Francisco João Marques; terminou porém a alocução com um testemunho pessoal sobre D. Daniel Junqueira, que ele conheceu.
A Enciclopédia Verbo traz uma breve notícia sobre este bispo.

D. Daniel Gomes Junqueira nasceu na Estela em 11 de Abril de 1894, filho de Manuel Gomes Junqueira, marinheiro, e de Inês Martins. Em 28 de Setembro de 1907, finda a instrução primária na sua aldeia natal, matriculou-se no Seminário das Missões do Espírito Santo, na Formiga, Ermesinde. Os alunos desse seminário iam às aulas aos liceus do Porto e o nosso jovem, fez o terceiro ano com distinção, quando chegou a República. A primeira República, vesga, mandou fechar os seminários e os colégios das Ordens Religiosas. Foi então para o estrangeiro, onde fez a sua formação.
Em 11 de Novembro de 1910, matriculou-se no Instituto Livre de Saint Pé de Biorre, nos Baixos Pirenéus, próximo do Santuário de Lurdes. A 4 de Julho de 1911, seguiu para a Bélgica, frequentando a Escola Apostólica de Gentinnes, onde concluiu os estudos secundários em 11 de Julho de 1913. Em 18 de Setembro daquele ano, entrou no noviciado da Congregação do Espírito Santo, em Chevilly, próximo de Paris. Mas em 15 de Agosto de 1914, por motivo da invasão alemã, o noviciado foi transferido para a abadia de Langonnet, na Bretanha, departamento e diocese de Vannes. Tendo terminado o noviciado, aí professou no dia 18 de Outubro de 1914 e logo frequentou o curso de Filosofia e de Teologia. Fez votos perpétuos em 5 de Outubro de 1918 e foi orde­nado sacerdote em 28 de Outubro desse mesmo ano, por Mgr. Shananham, Bispo Missionário irlandês, da Congregação do Espírito Santo. Feita a Consagração ao Apostolado no dia 13 de Julho de 1919, foi colocado como professor de Francês e de Inglês na Academia de Línguas de San Atilano, em Zamora, Espanha, dirigida pelos padres do Espírito Santo.
A 8 de Maio de 1920, regressa a Portugal e é nomeado professor e ecónomo na Escola Missionária do Espírito Santo em Braga e em 1922, professor de Escritura Sagrada e Dogma no Seminário Maior do Espírito Santo em Viana do Castelo; em 11 de Julho é director do Colégio das Missões de Santo Tomás de Aquino em Braga; em 2 de Outubro de 1928, superior e director do Seminário das Missões do Espírito Santo em São José de Godim, na Régua, sendo ao mesmo tempo pároco da freguesia e director espiritual do Semi­nário de Lamego. Durante dez anos, ocupando as tardes, dedicou-se muito à pregação e correu essa região e a parte norte do país.
Em 10 de Junho de 1938, o Papa Pio XI nomeou-o Prefeito Apostólico do Cubango, em Angola, e Vigário-Geral do Huambo, lugar vago pela morte de Mons. Keiling, falecido no ano anterior. Seguiu em 24 de Novembro de 1938 para Angola e entretanto o Papa Pio XII nomeou-o em 7 de Janeiro de 1941Administrador Apostólico das novas dio­ceses de Nova Lisboa e de Silva Porto, criadas pela Bula Solemnibus Conventionibus, de 7 de Maio de 1940, fruto do acordo missionário entre Portugal e a Santa Sé.
D. Daniel é sagrado bispo de Nova Lisboa no dia 1 de Junho de 1941, na Catedral de Luanda, no dia 1 de Junho de 1941, por D. Moisés Alves Pinho, Arcebispo de Luanda, ficando também com o cargo da diocese de Silva Porto, até ser nomeado para esta D. Américo dos Santos Silva, natural de Guilhabreu, freguesia do concelho de Vila do Conde. Em Nova Lisboa, organizou a diocese, que era enormíssima, percorreu esse território, criando missões e muitas paróquias.
Até ao Acordo Missionário havia em Angola apenas duas dioceses, a Diocese de Luanda e a Diocese do Congo.
Vamos ouvir um testemunho de um homem que conheceu bem acção de D. Daniel Junqueira, Mons. Alves da Cunha: chama-lhe o “Bispo do deserto”. Quando Norton de Matos — homem de horizontes largos que lançou as estruturas do futuro de Angola — chegou a Nova Lisboa só se via estepe.
Por ocasião da morte de D. Daniel Junqueira assim descreve o jornal da arquidiocese de Luanda, O Apostolado, de 1 de Julho de 1970, todo o seu labor mis­sionário:
“À data da criação da diocese havia nos quatro distritos administrati­vos que formavam o seu território — Huambo, Benguela, Huíla e Moçâmedes — 11 paróquias e 23 missões, das quais 4 paróquias e 9 missões nos distritos do Huambo e de Benguela. As restantes (nos distri­tos da Huíla e de Moçâmedes) passaram para a diocese de Sã da Ban­deira, criada em 27 de Junho de 1955.
O pessoal missionário constava de 77 sacerdotes, dos quais 8 secu­lares (1 africano) e 69 da Congregação do Espírito Santo. As Irmãs re­ligiosas eram 84, sendo 52 de S. José de Cluny, 24 de Santa Doroteia e 8 do Santíssimo Salvador.
De 1941 a 1964 foram criadas 16 novas paróquias (9 no Huambo e 7 em Benguela) e 24 missões (12 em cada um destes distritos). Há ainda a acrescentar os vários colégios religiosos, o mosteiro dos Monges Trapistas da Bela Vista, duas escolas de formação de professores, a casa dos rapazes, a Obra da Rua, etc. Os seminários tomaram-se flores­centes e Nova Lisboa conseguiu formar um clero local dos mais numero­sos das dioceses africanas.
No fim de 1969 funcionavam 509 escolas primárias com 35.506 alunos; 2 escolas normais com 349 alunos, 10 colégios liceais com 1.956 alunos; 3 seminários com 371 seminaristas menores e 66 maiores; as escolas de catequese eram 5.175 com 405.000 alunos; internatos masculinos, 34, com 4.166 alunos; internatos femininos, 33, com 2.648 alunas; creches, 12, com 270 crianças. A assistência sanitária era ministrada em 7 mater­nidades, 10 hospitais e 34 dispensários; só no ano de 1969 foram feitos 1.288.272 curativos.
A diocese tinha, até à criação da diocese de Benguela (em Junho de 1970), uma população de cerca de milhão e quinhentos mil habitantes, 900 mil católicos, [55 mil catecúmenos, 200 mil protestantes e 320 mil pagãos]. Sacerdotes, 171: 69 do Espírito Santo; 14 de La Salette; 29 seculares europeus; 49 seculares africanos. Irmãos, 102, sendo 27 afri­canos; Irmãs, 204, sendo 46 africanas.
Com ser a mais pequena em área (69.560 km2, contando ainda com o distrito de Benguela), a diocese de Nova Lisboa era de todas as de Angola a que contava maior número de católicos, de sacerdotes, de auxiliares e de obras missionárias e de organismos católicos, justamente considerada como uma das mais pujantes de toda a cristandade africana. Para tanto muito contribuiu o trabalho, o exemplo, a bondade, o zelo esclarecido do seu primeiro Bispo, D. Daniel Comes Junqueira.
A sua acção apostólica de 29 anos não se pode evidenciar numa breve resenha, nem os números e dados estatísticos sabem ou podem represen­tar a multiplicidade das obras, fruto da bondade do seu coração e da actividade do seu zelo apostólico, traduzidos na vida cristã e no movimento de sacramentos dos seus fiéis diocesanos.
Foi, na verdade, um grande Bispo missionário: assíduo nas visitas pastorais; deixando trabalhar e encorajando ao trabalho; animando o espírito de iniciativa dos seus missionários. A sua acção episcopal de 29 anos revela ainda uma perseverança sem quebra, uma vontade sempre alerta, um dom de si mesmo em totalidade à Igreja.
Consciente de que nas obras de Deus e da Santa Igreja não deve haver estreiteza de vistas, mas tudo se deve dispor para que o reino de Deus se dilate e as almas cheguem mais facilmente ao conhecimento da redenção, tudo dispôs e tudo fez para que uma nova diocese surgisse em Benguela, para benefício das numerosas cristandades daquele distrito e mais eficiente evangelização, encontrando-o a notícia da nova diocese prostrado no leito da sua longa e dolorosa agonia.
Segundo o historiador espiritano, P.e António Brásio, o bispo D. Da­niel Junqueira foi um prelado missionário que se entregou “totalmente, modestamente, numa doação que é imolação de toda a hora, à salvação do seu rebanho, à doutrinação do seu rebanho, sem dar nas vistas, sem procurar fanáticos admiradores, sem se meter em problemas que o su­peram e não lhe dizem respeito”, acrescentando: “a sua obra aí está a falar por si e por ele...”
Em 1966, festejou o Prelado o seu jubileu episcopal e recebeu do Papa Paulo VI uma carta autógrafa, elogiando o seu “religioso cuidado, esclare­cida prudência e ardente zelo”. Na verdade, duas preocupações o atormen­tavam: a conservação de uma grande cristandade já criada e a pregação do Evangelho entre os que o não conheciam. Chegou até a confessar: “São eles mesmos, os gentios, que vêm em embaixada pedir-me missionários; e prometem que farão a casa para os padres e a igreja e a escola; e também os católicos me pedem novas missões, para não terem que per­correr dezenas de quilómetros para cumprir os deveres religiosos. E eu sou obrigado a dizer que não tenho padres. Custa muito!”
Ao longo de quase três décadas de fecundo apostolado pôde ver Nova Lisboa tornar-se um importante centro de cultura eclesiástica e civil, os seminários providos de alunos, as ordenações de sacerdotes indígenas crescerem e aumentarem em ritmo crescente, as missões e paróquias, religiosas e fiéis.
Afável, humilde, magnânimo e desprendido dos bens materiais, de grande adesão à Igreja e ao espírito conciliar, tomara por divisa In do­mino confido, «Confio no Senhor», e soube vivê-la até à morte. O seu tes­tamento é o mais eloquente reflexo da bela e generosa alma com que Deus o dotou.
Vitimado por grave doença, faleceu a 29 de Junho de 1970, com 76 anos, no Hospital Universitário, sendo os seus restos mortais transferidos para Nova Lisboa (Huambo) e tumulados na Catedral arquidiocesana.
D. Daniel vinha a Portugal e passava algum tempo na Estela. Numa dessas visitas, eu estive com ele: fez um elogio do meio onde estava, daquela região. Também tenho uma agradável impressão desse bispo: pareceu-me realmente um homem de Deus, integrado na sua vocação missionária e serviço das Igreja. Por sua influência formam para lá padres da Aguçadoura e da Estela e lá trabalharam na sua diocese: ele recebia-os de braços abertos.
D. Daniel deixou-me uma grata memória, foi um grande missionário em Angola, honrou a sua terra, honrou a Igreja. Deixou uma saudade imensa. Foi um homem exemplar.


Inscrição latina do túmulo de D. Daniel Gomes Junqueira, na Catedral do Huambo

HIC IACET DOMINUS DANIEL GOMES JUNQUEIRA PRIMUS EPISCOPUS DIOCCESIS NOVAE  LISBONENSIS NATUS IN STELA POVOA DE VARZIM DIE 11-4-1894 PIE ET SANCTE OBIIT DIE 29-6-1970
R.I.P.

Em português: Aqui jaz D. Daniel Gomes Junqueira, primeiro bispo da Diocese Nova-Lisbonense; nascido na Estela, Póvoa de Varzim, no dia 11 de Abril de 1894, faleceu piedosa e santamente no dia 29 de Junho de 1970.
Que descanse em paz.


Imagens - D. Daniel Junqueira e uma notícia sobre ele saída num jornal da Póvoa.

MONSENHOR LOPES DA CRUZ, FUNDADOR DA RÁDIO RENASCENÇA

Recentemente a Rádio Renascença completou 75 anos: o próprio Presidente da República participou na comemoração. Ora, depois de ter sido apagada a página que lhe dedicávamos na escola onde ensinámos, não havia em linha sobre ele nada de substancial. Repomos aqui aquela página, a que fazemos breves acrescentos.

Os pais do Monsenhor Lopes da Cruz, o fundador da Rádio Renascença, eram naturais de Faria, Barcelos. Mas, em finais do séc. XIX, vieram para Terroso, como caseiros. Aí se demoraram alguns anos, aí nasceu o futuro monsenhor e adiante voltaram a Faria. E é em Faria que Monsenhor Lopes da Cruz está sepultado.
Foi assim que escreveu, a 30/V/1985, em A Voz da Póvoa, o terrosense Gomes dos Santos. A Enciclopédia Verbo dedica também algum espaço a este notável sacerdote.
Embora tenhamos lido algo mais que isto sobre este Monsenhor, é do artigo de Gomes dos Santos que vamos transcrever, com duas ou três pequenas modificações, a parte mais substancial.
No final do século passado o caseiro (da quinta de Guimbres, em Terroso) veio de Faria (entre Terroso e Faria sempre houve grande intercâm­bio de que ainda hoje restam vestígios no apelido dos seus naturais. Há mui­tos em Terroso que dão pelo apelido de Faria). E aí nasceu em 20 de Agosto de 1899 Manuel Lopes da Cruz.
Depois de cursar com brilho os Seminários diocesanos de Braga, Manuel Lopes da Cruz foi ordenado em 27 de Abril de 1924 por D. Manuel Vieira de Matos. Exerceu magistério no ensino particular foi prefeito de colégio em Guimarães e aí paroquiou a freguesia de S. Sebastião.
Em 1928 veio para Lisboa chefiar a redacção das Novidades. O jornalismo deu-lhe ensejo para várias viagens ao estrangeiro e pelo país de que deu contas no seu jornal que concebia como instrumento ao serviço da igreja e do bem comum.
Em 1931 lança o Anuário Católico de Portugal com os padres Miguel de Oliveira e Raul Machado e com Manuel Ribeiro na direcção a revista ilustrada Renascença.
Crescia a radiodifusão. No Diário do Minho os padres Magalhães Costa e Domingos Basto lutavam pela sua instalação ao serviço dos católicos. Mas a ideia só pode considerar-se com força a partir do célebre artigo publicado em 1 de Fevereiro de 1933 na Renascença em que o então padre Lopes da Cruz dizia: "muitas são já, em Lisboa, as estações emissoras. Mas os católicos não possuem ainda a sua, e só com extrema dificuldade e por favor especial podem recorrer a uma ou outra para se fazerem ouvir. Há quem não hesite em servir-se do insulto e até da ameaça para impedir que algum de nós se aproxime do microfone de qualquer desses postos... Miséria e tristeza! Compreendem os leitores sem esforço as incalculáveis vantagens que uma estação nossa nos traria a todos. Bem; mas se assim é, por que nos não resolveremos a preencher essa lacuna, a servir-nos desta maravilhosa conquista do engenho humano?
... O nosso posto — chamemos-lhe, por exemplo, a Rádio Renascença — não só irradiaria a nossa música, a nossa literatura, o nosso teatro, como também faria ou vir os nossos oradores e conferencistas...”
A Rádio Vaticano inaugurou em 1931 o seu primeiro posto emissor. Botelho Moniz fundou no mesmo ano Rádio Clube Português. A Rádio Oficial apoiada pelo ministro Duarte Pacheco começara as suas emissões regu­lares em Abril de 1933. A persistência e tenacidade de Lopes da Cruz viria a frutificar em 1938, com o apoio de todo um sector da imprensa e da hierarquia e especialmente da quota mensal mínima de esc. 2$50 dos sócios da sociedade fundada em 1935 e que hoje constitui a ELiga dos Amigos da Rádio Renascença". Na cruzada distinguiu-se ainda o Dr. Abel Varzim, cuja vida seguiria de pois ao lado e solidária com a do Monsenhor Lopes da Cruz. Com o irmão José Varzim e um terceiro, fundaria mais tarde a Rádio Triunfo, editora de discos.
Monsenhor Lopes da Cruz possuía como poucos o segredo de ver ao longe. Via sempre o apostolado em termos de futuro. Não se contentava com projectos, nem se perdia no meio de fantasmas e utopias. Rapidamente punha em obra o que julgava uma urgência de momento, como bem sublinham seus biógrafos. A criação da Rádio Renascença, é um bom exemplo. Mas há mais, como por exemplo a constituição da Rádio Televisão Portuguesa e aquela editora de discos.
Sublinho, como programas de muito relevo na Rádio Renascença, logo em 1939, os de Almada Negreiros, João Amial, Carlos Queiroz e Pedro Correia Marques que falou do "risco dos jornalistas". E muitos outros na maior parte saídos no suplemento Letras e Artes das Novidades.
Em 1946 Pio XII agraciou-o com o título de Monsenhor, inscrevendo-o no número dos seus camareiros secretos. A distinção era de ordem pessoal, mas também consagrava as canseiras que assinalaram os primeiros dez anos da Rádio Renascença.
Monsenhor Lopes da Cruz desconhecia o que era desistir. Ao serviço da emissora católica que fundara foi convidado a ir a Andorra. O avião que tomou em Madrid, instantes depois de levantar voo, incendiava-se numa floresta, felizmente sem graves consequências para os passageiros. Aterrados de pânico, todos se negaram a prosseguir viagem, menos Lopes da Cruz que corajosamente tomou outro avião e assim cumpriu a missão que o arrancara de Lisboa.
Em 31 de Dezembro de 1951 Monsenhor Lopes da Cruz foi nomeado Prior da Basílica dos Mártires do Patriarcado de Lisboa, instalada mesmo ao lado da Rádio Renascença. Dela se difundiriam a partir de então numerosos programas de Rádio com relevo para o Terço do Rosário.
Em 1952 foi Monsenhor Lopes da Cruz nomeado Prelado Doméstico de Sua Santidade e elevado, em Maio de 1957, à dignidade de Protonotário Apostólico.
O Papa João XXIII enaltece a sua acção. Anunciado o concílio Ecuménico Vaticano II, foi Monsenhor Lopes da Cruz escolhido como consultor para os trabalhos preparatórios no secretariado da imprensa e espectáculos, depois perito conciliar (1962) e consultor da Comissão Pontifícia dos Meios de Comunicação Social (1968). Fala-se na sua colaboração constituinte no Decreto Con­ciliar de 4 de Dezembro de 1964 sobre os Meios de Comunicação Social. ...
Em 15 de Dezembro de 1968, na missa de aniversário das Novidades, Monsenhor teve o primeiro rebate da grave doença que o vitimaria meio ano depois. Faleceu no Instituto Português de Oncologia em 9 de Junho de 1969 e seu corpo veio para o cemitério de Faria, em Barcelos, onde repousa ao lado de seus pais.
Em Terroso passou apenas a infância; e os pais cedo voltaram a Faria. Mas nem por isso a terra esquece que ali nasceu um dos portugueses mais ilustres deste século, pelo menos um dos homens com maior capacidade de antever as coisas. Diariamente a Rádio Renascença dá disso testemunho. Que Deus o tenha em bom lugar”.

MONSENHOR MANUEL VILAR, REITOR DO PONTIFÍCIO COLÉGIO PORTUGUÊS DE ROMA

“Um abismo de santidade e sabedoria”

O Mons. Vilar (Terroso, Póvoa de Varzim, 14/9/1903 – Porto, Hospital de S. Francisco, 7/3/1941) foi no seu tempo um sacerdote muito prestigiado, “um dos membros mais ilustres do Clero português”, como se escreveu à sua morte. Tendo ido muito cedo para o seminário diocesano bracarense, seguiu em 1922 para Roma, para a Universidade Gregoriana, onde se doutorou em Filosofia e Teologia. Lá se ordenou em 29/7/1928, celebrando a sua primeira missa no Santuário do Loreto, em 5 de Agosto.
Em 1929, veio para professor do Seminário Conciliar e foi elevado à dignidade de cónego em 25/5/1931. No ano seguinte foi nomeado vice-reitor da instituição e, em 1936, reitor. Coube-lhe a tarefa meritória de reorganizar os estudos do seminário em moldes modernos e de reconhecida qualidade científica, após as dificuldades advindas da Primeira República.
Em 1939 é nomeado reitor do Pontifício Colégio Português de Roma e ascende à dignidade de monsenhor.
Da despedida do seminário e da intervenção de várias entidades, mesmo poveiras, aquando da partida para Roma, foi elaborado um livro, intitulado O Senhor Cónego Vilar, que, embora se apresente anónimo, é devido aos cuidados do terrosense António Sousa Carvalho (depois Fr. António do Rosário, O.P.)
Em Roma, Mons. Vilar proferiu palestras semanais na emissão portuguesa da Rádio Vaticano, que eram depois retransmitidas pela Rádio Renascença (fundada por Mons. Lopes da Cruz, natural também de Terroso).
Atacado por uma doença pulmonar em 1940, vem primeiro para Lisboa e depois para o Hospital de S. Francisco, no Porto, onde falece, com 39 anos.
Sabendo-se que foi este jovem sacerdote quem diligenciou junto de Pio XII com vista a transmitir-lhe a vontade de Jesus manifestada à nossa Beata de que o mundo fosse consagrado ao Imaculado Coração de Maria, já se vê quanto ele nos interessa. Quando vai para Roma, em Março de 1939, já desde Janeiro visitava oficialmente Balasar.
Da longa carta do cónego Dr. Molho de Faria que vem no livro O Senhor Cónego Vilar vamos transcrever alguns parágrafos:
O Cónego Vilar propôs-se um grande ideal que jamais perdeu de vista. Sabia muito bem que era necessário ao homem, que aspira sin­grar na vida e fazer alguma coisa acima da vulgaridade no apostolado das almas, fixar-se em altos ideais. Sabia, pois, que era necessá­rio procurá-los, concebê-los e encarná-los, para ir até às últimas consequências na sua reali­zação. Sabia que sem eles o homem nada fa­ria ou rastejaria mísera e mesquinhamente.
O Mons. Vilar era apenas um ano mais velho que a Alexandrina e morreu logo adiante, de cancro, oferecendo a sua vida pela santificação dos sacerdotes, sem conseguir concluir a missão junto da Santa Sé.
Nas suas visitas a Balasar, usou de grande delicadeza. Em certo sentido, ele parecia irmão da Alexandrina, apesar da sua formação universitária e méritos intelectuais.
O seu reconhecimento da autenticidade das vivências místicas da Doente de Balasar bem como algumas notáveis cartas que lhe enviou foram argumentos com que se escudavam os defensores da Alexandrina ao tempo em que Braga quis que se fizesse silêncio sobre ela.
O Mons. Vilar associou a Alexandrina à sua tarefa de direcção do Colégio Português de Roma, chamando-lhe sua “colaboradora providencial”. O que estava certo, pois Jesus virá a chamar-lhe “doutora das ciências divinas” e a afiançar que nela deverão aprender “os pequenos, os grandes, os ignorantes e os sábios”...
Esta, por sua vez, deixou sobre ele as palavras mais elogiosas; referiu-se-lhe como “um abismo de santidade e sabedoria”. Ninguém fora tão longe. Veja-se o contexto da expressão:
Como me sentia muito bem a conversar com ele (o Mons. Vilar) e como tinha toda a licença do meu Director espiritual, falámos muito, mesmo muito de Jesus, porque sentia-me como que mergulhada num abismo de santidade e sabedoria, o que raras vezes me acontece, mesmo com sacerdotes. Disse-lhe que não falava assim com outros senhores Padres, porque não era feitio meu, mas sim pela confiança que nele sentia. Sua Reverência respondeu-me:
- Faz muito bem, Alexandrina, em nada dizer porque, se lhes dissesse, eles não a compreenderiam.
Chorei quando Sua Reverência se despediu de mim na partida para Roma. Prometeu escrever-me de lá, dizendo-me que ficaria a ser a sua intercessora na terra.
O Rev. Cónego Costa Lopes, num opúsculo que escreveu para recordar o centenário de Mons. Vilar, colocou uma muito bela consagração a Nossa Senhora feita pelo Mons. Vilar no dia da sua ordenação sacerdotal, que aqui se copia.



ARCIPRESTE ANTÓNIO GOMES FERREIRA, PÁROCO DE TERROSO

O P.e António Gomes Ferreira nasceu no Lousadelo, Balasar, em 16 de Janeiro de 1865; apesar de por breve período ter prestado algum serviço em Balasar e noutras paróquias, foi sobretudo pároco de Terroso (Póvoa de Varzim), onde se manteve 37 anos; foi arcipreste e também arqueólogo. Como arcipreste, sucedeu ao P.e António Martins de Faria. Faleceu em 16 de Abril de 1940.
No boletim Póvoa de Varzim, a Prof.ª Bernardete Faria publicou sobre ele um trabalho que retoma e amplia as informações veiculadas pelo P.e Leopoldino Mateus, acrescentando largo número de ilustrações.
O etnólogo e arqueólogo Rocha Peixoto, no artigo “Beneméritos da Arqueologia. As explorações da Cividade de Terroso e do Castro de Laundos, no Concelho da Póvoa de Varzim”, n’A Portugália, II, página 123, deixou sobre ele estas muito elogiosas palavras:

(…) no exemplaríssimo sacerdote que é o Abade da freguesia de Terroso, Rev.do P.e António Gomes Ferreira, encontrou-se pela sua colheita tão fidalga e generosa, pelo interesse que de começo lhe despertaram os trabalhos, pelo solícito afã em remover dificuldades, pelo esforço em alcançar operários nas duas épocas de absorvente faina agrícola, pela hospitalidade com que albergou o fiscal permanente do Museu do Porto (Abílio Pereira), pelos seus lúcidos conselhos e pela sagacidade das suas vistas, o ideal do cooperador desinteressado e prestimoso.

O P.e Leopoldino Mateus evocou-o nestes termos:

Era bom sacerdote, zeloso pároco, cumprindo o seu dever até ao fim, pois que, sendo sua vontade findar seus dias na freguesia da sua naturalidade, deixou de o fazer, por haver falta de clero para o múnus paroquial.
O seu funeral constituiu uma manifestação da mais profunda saudade, tomando parte no ofício 48 sacerdotes, incluindo os Srs. Arciprestes de Barcelos, Esposende e Famalicão, sob a presidência do Rev. Dr. Molho de Faria.
No cortejo fúnebre incorporaram-se muitos amigos desta vila (da Póvoa de Varzim) de Terroso, Balasar, Beiriz, Amorim, Laundos e Vila do Conde, as corporações religiosas de Terroso, Beiriz e Amorim e os Bombeiros Voluntários desta Vila.

Na correspondência para o jornal A Propaganda o mesmo P.e Leopoldino assinala-se várias vezes a vinda deste arcipreste à freguesia.

Coincidências

O artigo que se segue foi escrito pelo Arcipreste António Gomes Ferreira. Devia falar do P.e Álvaro de Matos, o sacerdote, depois pároco da Póvoa de Varzim, que deu a Primeira Comunhão à Beata Alexandrina, mas fala de coisas variadas, como dum P.e Doutor, natural de Balasar, que se fez jesuíta, diz que o P.e Álvaro de Matos foi dono duma importante casa nesta freguesia, etc.

Era aí por 1885 ou 1886. Eu era estudante de Teologia e estava a passar as minhas férias em Balasar. O Dr. Manuel Campos, ao tempo professor de Filosofia no Seminário de Santarém, veio, como costumava também, passar as suas férias ao seu solar o “Campo”, na mesma freguesia.
Era um madrugador; e todos os dias quando ia para a Igreja da freguesia (ainda era a do Matinho) celebrar a Santa Missa passava pela minha casa, abria a porta e chamava naquela voz de tenor, tão sua: “O estudante está na cama? Cá fora já, para me vir ajudar à Missa…” E eu, às vezes bem arreliado, porque queria mais um bocadinho de cama, lá me mexia e lá ia ajudar o Sr. Doutor à Missa.
Um dia apareceu-me com um rapazinho pela mão, criança muito viva, perna mexida a sair do seu calção irrepreensível, que chamou a minha atenção pela novidade. O Sr. Doutor satisfez logo a minha curiosidade, dizendo-me: “É o Alvarinho, meu sobrinho, filho da minha irmã Rita, que veio passar uns dias connosco”.
Pouco tempo passado, eu ordenei-me sacerdote e segui a vida paroquial e aí me tenho mantido até agora. O Dr. Campos, alma de escol e coração esbraseado de zelo pela salvação das almas, seguia a sua vocação e fez-se religioso na benemérita “Companhia de Jesus”.
O Alvarinho cresceu, fez-se estudante e ordenou-se sacerdote.
Seu tio, o Dr. Campos, antes da sua profissão religiosa e em reconhecimento da muita simpatia que por ele nutria, legou-lhe o seu solar de Balasar, onde ele com a família costumava passar alguns momentos de repouso (algumas palavras ilegíveis na cópia que usamos).
Os tempos foram passando e um dia rebentou a revolução de 5 de Outubro.
Os revolucionários por toda a parte perseguiam tudo o quer cheirasse a religião, espatifando tudo, arrastando tudo com uma fúria que dava a ideia que foram muitos manicómios que vomitaram para a rua os seus moradores. Tudo foi perseguido, mas nomeadamente os Jesuítas… Esses foram monteados como feras da pior espécie e passaram os trabalhos e as inclemências que se lêem com lágrimas nos Proscritos.
Por essa ocasião estava eu em minha casa de Balasar a tratar das vindimas e fui muito cedo para a igreja a fim de celebrar a Santa Missa (agora já na actual igreja) e vir presidir aos trabalhos da minha casa.
E quando, depois de fazer a minha preparação, me dirigi à sacristia da Igreja para me paramentar, vi através dos vidros da janela um vulto que espreitava, cauteloso e com manifesto receio de ser descoberto.
Aproximei-me e reconheci o amigo de tantos anos, o Dr. Campos!
Corri logo à porta para lhe dar o abraço de saudade e certificá-lo de que ali, naquele remanso pacífico da nossa aldeia, ainda não tinha chegado a república, que estivesse sossegado.
O Dr. Campos contou os trabalhos que tinha tido para chegar ali da residência de Guimarães, onde se encontrava, sempre perseguido, na sua própria terra e pelos irmãos e patriotas.
Na sua freguesia, que tantas vezes lhe serviu de remanso, de paz e de conforto, ele encontrava sossego.
- Já dei parte ao Álvaro, diz-me ele assustado (algumas palavras ilegíveis), e quero ver se consegue passar-me para Espanha.
Que pena me causou esta cena e como eu desejei naquela ocasião ter uma eloquência de Demóstenes para mover os perseguidores a sentimentos humanos! E o Álvaro lá se mexeu, tomou as suas medidas, tudo preparou e seu caro tio, que nunca na vida fez mal a uma mosca, porque era a bondade em pessoa, lá passou a fronteira, onde, para vergonha nossa, foi encontrar repouso, segurança, estima e apreço que a pátria lhe negou. Vive ainda, para honra da família e da sua ordem, em terras do Brasil a espalhar os benefícios do seu ministério que a pátria não quis aproveitar escorraçando-o… como elemento perigoso.
O sobrinho, o P.e Álvaro Matos – herdeiro da sua casa e das suas virtudes – foi, por causa delas, nomeado pároco da Póvoa. O que foi a sua passagem por esta paróquia (da Póvoa de Varzim onde saía o jornal) está gravado ainda bem fresco na consciência de todos os moradores da formosa vila; na Igreja paroquial, na Conferência de S. Vicente de Paulo, no Pão de Santo António, na Beneficente, na Confraria do S. S. Sacramento e sobretudo na revolução moral da sua paróquia.
A sua construção franzina, servida por uma alma de apóstolo e da lúcida compreensão das coisas, gastou-se em poucos anos.
Voou para a eternidade, podendo dizer como S. Paulo ao terminar a sua brilhante carreira de apostolado: fidem servavi, cursum consumavi. 
Amigo íntimo do finado, só me resta pedir-lhe para que no seio de Deus, onde piamente creio que reside, peça ao Pai da Misericórdia que me leve a vê-lo de novo um dia, que não virá longe, para nunca mais me apartar dele.
Arcipreste António Gomes Ferreira, O Liberal, 20/5/1923


O CÓNEGO MOLHO DE FARIA, PROFESSOR DO SEMINÁRIO CONCILIAR, NATURAL DE TERROSO

A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira dedica um artigo de quase uma coluna ao cónego Molho de Faria. Estava ele na força da vida, com cerca de 45 anos. Faleceria em 1982, com 78.
Nesta enciclopédia, como se sabe, os artigos não são assinados. Mas é de crer que o escrito tenha bastante de autobiográfico. Lembre-se já agora que data de 1943 a primeira intervenção do Cónego Molho de Faria em Balasar, como presidente da comissão que foi estudar a Alexandrina. Claro que nada disso vem nesta biografia.
Veja-se o que então se escreveu:

Sacerdote, professor e escritor, nasceu em Terroso, Póvoa de Varzim, a 22/10/1904.
Seus pais, modestos lavradores minhotos, visto possuírem três filhos, dos quais o biografado era o mais velho, tiveram grande dificuldade em mandá-lo estudar. Só em 7/1/1920 ingressou no Seminário Conciliar de Braga.
Em 17/10/1925, tendo completado já os sete anos de preparatórios e o 1º de Teologia, o arcebispo primaz, D. Manuel Vieira de Matos, apreciando altamente os seus dotes intelectuais e morais, enviou-o a Roma para cursar a Universidade Gregoriana.
Em 1928 doutorava-se, na dita Universidade, em Filosofia, e, quatro anos depois, igualmente em Teologia. Foi ordenado em 20/2/1930 e, no dia seguinte, celebrou a sua primeira missa na basílica de S. Pedro.
Regressado de Roma em 1932, foi nomeado pelo arcebispo primaz professor efectivo de filosofia e Teologia Dogmática no Seminário Maior de Braga, onde, nos anos subsequentes, a sua acção professoral se alargou à regência das principais cadeiras que hoje detém. Em 1935, o arcebispo primaz nomeou-o assistente diocesano da Acção Católica; em 1937, examinador e juiz sinodal; em 1940, director da revista oficial da arquidiocese; em 1942 foi investido na dignidade de cónego da sé primacial de Braga e na de supremo juiz do tribunal eclesiástico de 1ª e 2ª instâncias de Braga e de toda a província do Norte de Portugal, etc.
A sua notabilíssima actividade literária principiou em 1933 com variada colaboração nas revistas Acção Católica (órgão oficial do arcebispado primaz), Verdade e Vida (Porto) e Cenáculo (revista do seminário conciliar bracarense), assim como no Diário do Minho, Escola Remoçada, etc., colaborações que mantém com a direcção da Acção Católica, onde tem a seu cargo uma secção de críticas literárias e outra secção de consultas, onde se debatem os mais intricados problemas da religião, da moral e do sacerdócio, em si ou nas suas relações com matéria secular ou profana.
A partir de 1935 publicou muitas obras em volume, algumas das quais esgotadas, alcançando grande reputação pelo seu mérito literário e pelo intento moralizador das juventudes. Entre essas obras, sãO principais: Cronologia da Paixão de N. S. Jesus Cristo, 1035; Maria da Consolação, biografia, 1938, 1941 e 1943; Os Bailes e a Acção Católica, 1939, obra aumentada e totalmente refundida em 1946; Os Namoros, 1942; O Pudor e a Modéstia Cristã, 1943; Os Namoros e a Vocação Matrimonial, 1944; A Imprensa e a Acção Católica, 1945; A Continência Periódica e a Moral, 1947; no prelo (1948): O Catolicismo em Derrocada? e S. Bento da Porta Aberta (monografia), obras na sua maioria de vasta extensão e largo intuito e alcance social. Tem em preparação, também, em 1948, Questões Modernas de Moral e Justiça e anuncia um vasto trabalho de muitos anos de estudo sobre vários filósofos e teólogos portugueses.

Em 28/03/04, no Diário do Minho, o Cónego Melo Peixoto dedicou um artigo ao «Arcediago Doutor António Gonçalves Molho de Faria». A este título acrescenta o articulista o subtítulo «Professor do Seminário Conciliar, Director da Revista Acção Católica e Oficial da Cúria Arquidiocesana».
Depois de referir o seu ingresso no seminário bracarense e os seus estudos na Gregoriana, continua o autor:

… em 1932, regressou à Arqui­diocese e foi nomeado Professor efectivo no Se­minário Conciliar, regen­do cadeiras em Filosofia e no Curso Teológico, mor­mente Metafísica e Teologia Dogmática.
Professor abalizado de inúmeras gerações, exigen­te mas compreensivo, aco­lhedor mas conservando a “distância regulamentar”, disponível para o atendi­mento aos alunos... o seu modo de ser e estar e a sua “pedagogia” exigiam, nas aulas, uma grande atenção e, podemos dizer, atenção permanente.
Sem dúvida que a Meta­física e a Teologia Dogmática, além de outras disci­plinas, exigem uma redo­brada atenção devido à sua complexidade, acrescendo ainda o facto das “sabati­nas” se realizarem com cer­ta frequência. Também o professor, com assiduidade, fazia as tais “perguntas des­garradas”... e era mau que o aluno estivesse “descalço”.
“Cada um é como cada um”, diz o nosso povo... Cada professor tem o seu modo de ser e os alunos fazem dele a perfeita “radio­grafia”. Importante é que não esqueçamos que a his­tória de certos homens so­mente se pode escrever no túmulo onde repousam, como referiu Boileau.
O Doutor Molho de Fa­ria mereceu o respeito e a consideração dos seus alu­nos e foi sempre, para to­dos, um exemplo de dedi­cação, apego ao trabalho e amor à Igreja.
O corpo docente dos Seminários era bem esco­lhido e podemos afirmar, sem hesitação, que a do­cência era verdadeiramente “universitária”... Recordar o Doutor Alexandrino Fer­nandes dos Santos, o Arce­diago Insuelas, o Doutor Adão Salgado, o Doutor Álvaro Dias, o Doutor An­tónio Durão, S.J. etc...
Além do magistério de que foi encarregado, o Cónego Molho de Faria dedicou-se à vida apostóli­ca, mormente através da pregação — tendo percorri­do grande parte da Arqui­diocese neste ministério — e à assistência espiritual nos organismos da Acção Cató­lica, — escolares e indepen­dentes e também operários, onde ministrou formação segura e incutiu “militân­cia” nos vários “agentes”.
Os Retiros ou Exercícios Espirituais ocuparam mui­to tempo da sua vida sacer­dotal, com extraordinário sucesso na formação religiosa e espiritual dos nossos fiéis e que ainda hoje lembram as lições recebidas.
Será bem recordar o trabalho, de muita exigência, que lhe foi pedido: a direcção da Revista Acção Católica como substituto do Doutor Alexandrino Santos desde 1940 a 1981, – sendo director de facto e não no papel, — data em que pediu a exoneração, um ano antes da sua morte.
Não sendo, embora, um canonista, foi nomeado “Oficial” da Cúria Arquidio­cesana, presidindo ao Tribu­nal Eclesiástico no qual de­senvolveu uma activida­de digna de apreço. Os seus conhecimentos, a sua pon­deração e sentido de justiça mereceram o apreço devido.
Em 1943 (15 de Abril) tomou posse canónica como capitular efectivo da Catedral bracarense e em 29 de Outubro de 1972 foi nomeado Arce­diago, cargos e missão que fielmente desempe­nhou.
Viveu com verdadei­ro sentido de “português responsável” todos os problemas surgidos após o período revolucionário de 1975 e procurava in­formar-se, cuidadosa­mente, de tudo quanto à Igreja se referia.
Faleceu em 21 de Fe­vereiro de 1982 e foi se­pultado no cemitério de Monte d’Arcos, em Braga.
Não posso deixar de referir a ajuda que sem­pre soube prestar aos seus antigos alunos quan­do recorriam ao seu con­selho e apoio, nos vários sectores da vida eclesiás­tica e pastoral.
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